segunda-feira, 18 de julho de 2011

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Pod(e)ando


Sou negra
Mulher
Tenho sessenta e três anos
Finalmente consegui o direito de casar
Com minha parceira

Sou branco
Homem
Tenho vinte e um anos
Sou hetero

Me sinto lesado, me sinto esquecido pelo poder público. Porque essas ditas minorias tem mais direitos que nós? Dívida histórica? Luta pela igualdade? Caso um negro me chame de branquelo safado terei direito de lutar contra a discriminação dele? Se um gay me chamar de machista, ou retrógrado terei eu direito de argumentar? Tenho medo do que digo, pois sinto minha liberdade de pensamento podada pelos diversos estatutos da igualdade. Não posso apenas estar de mal humor um dia e resolver expor meu ponto de vista e ser prejudicado por causa disso? Será que é errado gostar do sexo oposto? Ser jovem? Em certas horas tenho receio de soar antigo, de emitir meus juízos de valor e ir contra a lei, pois o artigo primeiro da constituição já não me basta como proteção. Me sinto esquecido pela lei por não fazer parte das minorias. Noventa por cento, dado por alto, da população brasileira é mestiça (duvido que esses dez por cento sejam puros, se é que existe pureza no Brasil) e mesmo assim os negros, pardos e morenos são uma minoria excluída. Ser homossexual se tornou status de luta pela liberdade. Então ser hetero é lutar pela manutenção da sociedade estabelecida ou ser marginal? Se sou homem posso ser caçoado pelas mulheres de todas as maneiras, mas contar uma piada onde a chamo de feia é crime? Até os ateus têm mais direitos que os brancos, heteros, jovens e homens.
Quero minha liberdade de expressão.

terça-feira, 12 de julho de 2011

Miséria



Meio-dia
Menino magro esmola
Miséria mostrada
Mãos calejadas
Maltratado pela fome

Madrugada
Menina usada
Menor de idade

Maior
Drogado
Matando pra não morrer, de fome

Misto de dor e necessidade
Mais que apenas vontade
Muito mais

Medo
Metendo medo
Sentindo medo
Morrendo mais e mais

Morando nas ruas
Marginalizado
Matando
Mais, cada vez mais

Mirando uma vida
Tentando viver
Tentando manter-se
Ao menos não morrer

Menos
Nunca mais
Mas nunca ajudado
Maltratado
Maltrapilho
Jogado à sorte, à má sorte, à merda



Fábio Melo

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Vida Perdida

Menina magra, rua escura, pernas nuas, umbigo de fora, quase tudo à mostra. Olhar de desejo, de tarados que passam em carros, uns não arriscam em parar, outros põem para dentro e satisfazem sua loucura, coitada daquela criatura, as noites na sua pele costura, aqueles que não pagam e por malvadeza lhe deixam queimaduras, pontas de cigarro, mundo malvado. Mais velha, um pouco mais velha, já não existe esperança, na sua cabeça nem se passa que já foi criança. Amargura, ganância, o desejo lhe invade, para inundar o cérebro encheu a cabeça de craque e vê a vida numa lata, entre cinzas de cigarros, motéis baratos e garrafas. Onde está o arco-íris com pote de ouro? Talvez aquilo nunca existira para alguém como ela, sem ao menos o direito de uma casinha na favela, fica a espera, de Deus sabe lá o quê, não sabe como e nem se quer se resolver. Menina triste, na mão de uns e de outros, leva umas tapas na cara, agora já era, sabe que vai morrer como uma viciada, que vão dizer que não vale nada, sempre foi abandonada.

Cássio Tavares

Ode ao Homem do Mangue

Recife tem cheiro de sangue e suor
Daqueles guerreiros que se criaram sós
Nasceram da lama, dela construíram castelos
Dela crescem e sobrevivem, meninos, homens e velhos

Liberdade é palavra difícil de se ouvir
Pra quem existe no mangue e não pensa em desistir
Palavras mais conhecidas são fome e labuta
Resumem suas vidas em uma palavra: Luta!

Alimentam a esperança com a carne do caranguejo
Renovam a sobrevida, alimentando o desejo
Na carne do homem da lama, quase sem carne,
O esteriótipo avesso da cidade

Sob o sol forte e o fervor do mormaço
Os pés descalços, como que com botas de aço
Não emitem um só gemido, ou grito de socorro
Caminham sobre a lama, dentro dela, como se pisassem ouro


Fábio Melo